Sexta-feira, 13 de Março de 2009

CESTAS DE POESIA

MANUEL BANDEIRA


Poética

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente 
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o 
cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de excepção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora 
de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário 
do amante exemplar com cem modelos de cartas 
e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

 

NOTA:

Manuel Bandeira (Recife PE, 1884 - Rio de Janeiro RJ, 1968) teve publicado de seu primeiro poema, um soneto em alexandrinos, na primeira página do Correio da Manhã, em 1902, no Rio de Janeiro. Cursou Arquitetura, na Escola Politécnica, e Desenho de Ornato, no Liceu de Artes e Ofícios, entre 1903 e 1904; precisou abandonar os cursos, no entanto, devido à tuberculose. Nos anos seguintes, passou longos períodos em estações climáticas, no Brasil e na Europa. No sanatório de Clavadel (Suíça), onde esteve entre 1913 e 1914, travou amizade com Paul Éluard e tomou contato com a literatura de vanguarda francesa. Voltando ao Brasil, passou a viver no Rio de Janeiro, onde publicou A Cinza das Horas, em 1917. No mesmo ano, teve publicada sua primeira crônica, no periódico carioca Rio Jornal. Apoiou a Semana de Arte Moderna, em 1922; seu poema Os Sapos foi lido por Ronald de Carvalho, em uma das sessões do Teatro Municipal de São Paulo. Nas décadas seguintes, aliou à produção poética a colaboração em periódicos, como cronista e crítico literário, e a tradução de mais de 30 obras. Lecionou no Colégio Pedro II, entre 1938 e 1943, e na Faculdade Nacional de Filosofia, entre 1943 e 1956. Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras em 1940. Fazem parte de sua obra poética os livros Libertinagem (1930), Mafuá do Malungo (1948) e Estrela da Vida Inteira (1966), entre outros. Manuel Bandeira, cuja obra vincula-se à primeira geração do modernismo, é um dos maiores poetas brasileiros. Sua poesia, marcada pela experiência trágica da tuberculose, trata da morte, do amor e do cotidiano, em versos livres nos quais se destacam o humor, a melancolia, por vezes a amargura diante da vida. Como cronista, “foi um observador atento e lúcido dos fenômenos de uma época em que se desenvolveram tantos fatos notáveis para a história da Humanidade”, segundo o crítico Stephan Baciu.

 


publicado por felismundo às 07:00
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De Ab a 13 de Março de 2009 às 08:47
Como eu o percebo!Não aguento tb. a anemia poetica ou esse alinhar da "musica das palavras" só por isso mesmo.Mas tb. não aguento o panfleto se por acaso rimar ou tiver cadencia e lhe chamarem poesia.E são poucos os poetas de vozes tão singulares que me entornem uma nova côr sobre a realidade.Muito poucos(dos que escrevem,claro,porque os há a andar por aí sem expressão escrita.AB


De felismundo a 15 de Março de 2009 às 13:22
AB , tens razão.
É essa a diferença entre os "POETAS" e os "outros", aqui bem patente.


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