Segunda-feira, 21 de Fevereiro de 2011

UM POEMA AO ACASO

 

Bertolt Brecht

 

1

Todos os dias os ministros dizem ao povo
Como é difícil governar. Sem os ministros
O trigo cresceria para baixo em vez de crescer para cima.
Nem um pedaço de carvão sairia das minas
Se o chanceler não fosse tão inteligente. Sem o ministro da Propaganda
Mais nenhuma mulher poderia ficar grávida. Sem o ministro da Guerra
Nunca mais haveria guerra. E atrever-se ia a nascer o sol
Sem a autorização do Führer?
Não é nada provável e se o fosse
Ele nasceria por certo fora do lugar.

2

E também difícil, ao que nos é dito,
Dirigir uma fábrica. Sem o patrão
As paredes cairiam e as máquinas encher-se-iam de ferrugem.
Se algures fizessem um arado
Ele nunca chegaria ao campo sem
As palavras avisadas do industrial aos camponeses: quem,
De outro modo, poderia falar-lhes na existência de arados? E que
Seria da propriedade rural sem o proprietário rural?
Não há dúvida nenhuma que se semearia centeio onde já havia batatas.

3

Se governar fosse fácil
Não havia necessidade de espíritos tão esclarecidos como o do Führer.
Se o operário soubesse usar a sua máquina
E se o camponês soubesse distinguir um campo de uma forma para tortas
Não haveria necessidade de patrões nem de proprietários.
E só porque toda a gente é tão estúpida
Que há necessidade de alguns tão inteligentes.

4

Ou será que
Governar só é assim tão difícil porque a exploração e a mentira
São coisas que custam a aprender?

 

NOTA: Experimentem a trocar a palavra "Fuhrer" , por "Primeiro Ministro", este ou o que se adivinha!!!


publicado por felismundo às 18:29
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Sexta-feira, 11 de Fevereiro de 2011

UM TEXTO DE ARMINDO RODRIGUES

Hoje, 11 de Fevereiro de 2011, sinto-me outro, caíu mais um ditador, Mubarak.

 

Por cá, continuamos neste vai e volta, que não aquece nem arrefece, mas que poderá levar a um movimento popular de modo a que a coisa mude e esta gente, se torne gente, para que "isto", possa, efectivamente, mudar.

 

Deixo-vos com um texto de Armindo Rodrigues, um médico, poeta e tradutor, com fortes raízes alentejanas.

 

"Olho à roda. É esta gente que me cerca a minha gente, esta língua surda e sibilante que escuto a minha língua, esta pobre terra a minha terra.

À gente a amo e a detesto mais que a nenhuma outra, por ser a que tem, mais que nenhuma outra, a mesma educação colectiva que eu, os mesmos defeitos e virtudes a jactando-se daqueles e cultivando-os.

À língua, porque é a que falo mais usual e correntiamente, a que melhor me exprimo, e acho por isso mais melodiosa e bela de quantas línguas há.

E à terra, por nela ter nascido e me haver acostumado desde muito novo a amá-la, desejaria eu, como minha pátria, que mais pródiga fosse, mais amena e cuidada, e mais me pesa que não pertença a todos".

 

Armando Rodrigues (1904 - 1993)


publicado por felismundo às 21:06
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