Neste mini período de férias, nada melhor que vos trazer, para fazer companhia, o António Aleixo
Estátua da autoria de Mestre Lagoa Henriques
Na esplanada do Café Calçinha, em Loulé, local onde o poeta passava, grande parte dos seus dias.
Deixam-me sempre confuso
as tuas horas boas,
por não te ver fazer uso
dessa moral que apregoas
P`ra te tornares distinto
e mostrar capacidade,
dizes sempre que te minto,
quando te digo a verdade
Não és, mas queres parecer
um santinho no altar;
mostras ao mundo , sem querer,
o que pretendes tapar.
Foges de mim, sei porquê;
quer`s ser grande, não estranho:
receias que quem nos vê
te julgue do meu tamanho
São parvos , não rias deles,
deixa-os ser, que não são sós;
as vezes rimos daqueles
que valem mais do que nós.
MOTE
Façam por não Verem Mais
Vós, ó mães idolatradas,
Façam por não verem mais
Crianças abandonadas,
Tísicas — nos hospitais.
GLOSAS
Sim, vós, ó mães carinhosas,
Criai as vossas filhinhas,
Educai-as de criancinhas,
Mas não em leis religiosas,
Que essas leis são perigosas,
E p'los homens inventadas.
Não sigam, pois, enganadas
Pelos padres sem consciência,
E amem o deus-Providência,
Vós, ó mães idolatradas!...
Se quereis ver a religião,
Já noutro tempo atrasado,
Leiam um livro chamado
«Mistérios da Inquisição»...
Lendo aí, compreenderão
Como as pessoas reais
Mandaram fuzilar pais
E mães sem fazerem mal.
Padres e gente real,
Façam por não verem mais.
E quando se saiba amar
Como irmãos, em toda a terra,
Bombas, revoluções e guerra
Para sempre hão-de acabar;
Nem mais se hão-de encontrar
Mulheres «matriculadas» —
Infelizes que, desonradas,
Ali procuram a morte,
Deixando, aos vaivéns da sorte,
Crianças abandonadas.
Hão-de acabar os ladrões,
Os patifes, os mariolas —
Quando se fizerem escolas
Das igrejas e prisões.
Hão-de acabar os patrões,
Que são prejudiciais —
Comprando bons enxovais
P'ràs suas filhas — enquanto
As dos pobres vertem pranto,
Tísicas — nos hospitais.
António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..."
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