De seu nome JOSÉ DE ALMADA NEGREIROS:
ODE A FERNANDO PESSOA
Tu que tiveste o sonho de ser a voz de Portugal
tu foste de verdade a voz de Portugal
e não foste tu!
Foste de verdade, não de feito, a voz de Portugal.
De verdade e de feito só não foste tu.
A Portugal, a voz vem-lhe sempre depois da idade
e tu quiseste acertar-lhe a voz com a idade
e aqui erraste tu,
não a tua voz de Portugal
não a idade que já era de hoje.
Tu foste apenas o teu sonho de ser a voz de Portugal
o teu sonho de ti
o teu sonho dos portugueses
só sonhado por ti.
Tu sonhaste a continuação do sonho português
somos todos os séculos de Portugal
somados todos os vários sonhos portugueses
tu sonhaste a decifração final
do sonho de Portugal
e a vida que desperta depois do sonho
a vida que o sonho predisse.
Tu tiveste o sonho de ser a voz de Portugal
tu foste de verdade a voz de Portugal
e não foste tu!
Tu ficaste para depois
E Portugal também.
Tu levaste empunhada no teu sonho a bandeira de Portugal
vertical
sem pender para nenhum lado
o que não é dado pra portugueses.
Ninguém viu em ti, Fernando,
senão a pessoa que leva uma bandeira
e sem a justificação de ter havido festa.
Nesta nossa querida terra onde ninguém a ninguém admira
e todos a determinados idolatram.
Foi substituído Portugal pelo nacionalismo
que é maneira de acabar com partidos
e de ficar talvez o partido de Portugal
mas não ainda apenas Portugal!
Portugal fica para depois
e os portugueses também
como tu.
Com nova roupagem, mostro-vos hoje um trabalho de Helena Bracieira, realizado no âmbito da disciplina de História de Arte, na Escola Diogo Gouveia em Beja, dedicado a Almada Negreiros.
Deixem-me chamar, também, a vossa atenção para a música escolhida.
Almada Negreiros – A Sesta, 1939 (Carvão sobre papel, 68 x 100 cm)
José de Almada Negreiros ( 1893-1970) , a popularidade de Almada Negreiros virá, em grande parte, da sabedoria com que soube aliar uma profunda compreensão dos valores dos tempos modernos a um apego - manifestado na sua maturidade artística e intelectual - aos valores estéticos e ideológicos da tradição. O artista forma-se á margem do ensino artístico tradicional ( Almada não passa por nenhuma escola de belas-artes) e revela-se, desde 1912, com a presença no I Salão dos Humoristas. A sua actividade criativa passa sobretudo, nessa altura, pela ilustração e pela caricatura, que publica em jornais e em revistas de humor da época. O interesse de Almada pelas artes gráficas estende-se á publicidade, ao cartaz, ás capas de revistas, como a Contemporãnea (1922), e á decoração de interiores. Os seus primeiros quadros são obras de carácter decorativo, que concebe para vários estabelecimentos comerciais de Lisboa, como o conjunto de quatro painéis figurativos que executa, em 1913, para a Alfaiataria Cunha, Brasileira do Chiado, etc... A dança é também uma das suas grandes paixões.Almada experimenta também outros suportes, como a tapeçaria, o azulejo ou o mosaico, regressa ao vitral, com os desenhos para a Igreja Santo Condestável em Lisboa (1951). Do ponto de vista plástico, a obra manter-se-ia sempre alicerçada na persistência do desenho como meio e fim da actividade criadora. Nunca a cor, a matéria pictórica, extravasa os limites impostos pela razão do traço, mesmo quando o artista abraça um maior experimentalismo, informado pela intuição da gramática pós-cubista, com as linhas entrecruzando-se no plano, com os contornos dos corpos resolvidos, sinteticamente, num desenho orgânico próximo da defenição geométrica ( círculos, arcos de círculo, ovais....). As formas da sua predilecção são sobretudo as pessoas - os saltimbancos ( Acrobatas, 1919) e arlequins ( Arlequim e Colombina, 1938). O grande Retrato de Fernando Pessoa (1954), obra emblemática da produção pictórica dos anos 50, foi executado para o restaurante lisboeta Irmãos Unidos.
Neste Sábado de Inverno, deixo-vos com Almada Negreiros
Almada Negreiros: Retrato do Poeta Fernando Pessoa, 1954.
Almada Negreiros - Maternidade 1935
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