fotograma verdade, fotograma mentira
talvez eu tenha sido um dos deserdados
das vinhas da ira
talvez teu amante em Hiroshima
ou marinheiro do couraçado potenkine
quem sabe
ou apenas escravo inútil de deuses de plástico
de heróis de cartolina
ó gelsomina
ó gelsomina (buon giorno maestro!...)
por ti vou cavalgar a vertingem
dos 7 samurais
o sortilégio é possível
mesmo se há lôdo no cais
agora através da janela indiscreta
cai um denso nevoeiro sobre o aeroporto da Casablanca
cravei um cigarro ao Bogey
a Ingrid Bergman nem deu por mim, que pena...
(play it again, Sam)
olho à volta deste mágico terreiro de ilusões
apenas vejo a sede que existe
no olhar triste dos vilões
(não sei porquê... coisas da fita)
ah! la dolce vita
buon giorno maestro!...
mudança de filtro: noite americana
rebeldes em causa em fugas sem rumo
cavaleiros do asfalto em busca de um deus possível
um sax na noite
talvez seja o De Niro na luz breve
dum qualquer candeeiro
o olhar perdido
de toiro enraivecido
e a noite a desvendar
os helicópteros do apocalipse
as valquirias do medo
nesta sala escura, meu segredo
oh dama de Xangai deixa-me embarcar
no teu veleiro
no teu canto traiçoeiro
comédia de enganos, lanterna mágica, jogo
d'espelhos
eu quero percorrer esse tempo de luz e de sombra
imaginário mundo
com o coração a bater a 24 imagens por segundo
José Medeiros
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.