Hoje, deixo-vos com um pintor que me é muito chegado...
Paisagem, óleo s/ tela, 40x30, 2004
Paisagem, óleo s/ tela, 45x50, 2006
A notícia chegou, assim, seca, como a terra que nos acolhe.
"Morreu o Isaías!"
Daqui vai, o meu reconhecimento para um homem que soube elevar bem alto os costumes e as tradições da nossa terra comum, ESTREMOZ.
Para a família e amigos, os meu sentimentos e o desejo sincero de que saibamos, todos, ser dignos da sua obra e que a melhor forma de o fazer será prepétuar o ícone que é, a "ADEGA DO ISAÍAS".
"Filho de Silvina Mendes Jorge e de José Marcos, foi o segundo mais velho da família. Nascido a 2 de Fevereiro de 1937, foi baptizado com o nome de Isaías, por ter sido apadrinhado por um tio com o mesmo nome. Antes do nascimento dos filhos, José Marcos Parreira, pai de Isaías, terá alugado o prédio, onde hoje se localiza a Adega, sendo a parte de cima para habitação e a parte de baixo para a produção do vinho para venda na taberna, que era sempre acompanhado de petiscos dos mais simples, conforme aqueles tempos, muito duros e difíceis. Para além deste negócio, o pai de Isaías tinha também um pequeno comércio de materiais de construção, fabricados num telheiro, onde se fazia telha e tijolo de forma de artesanal. Isaías António concluiu com êxito o Curso Comercial, sem nunca deixar de estar envolvido naquele ambiente de copos e petiscos. Porém, tinha ainda tempo para estar ligado à Sociedade Artística Estremocense (União) e ao Clube de Futebol de Estremoz, durante cerca de 25 anos, primeiramente como praticante de algumas modalidades desportivas e mais tarde com cargos directivos de alguma responsabilidade. Quando o pai faleceu, no dia 8 de Janeiro de 1957, tinha Isaías 19 anos e estava matriculado em Lisboa num Curso ligado à área comercial. Perante esta situação, Isaías opta por não deixar a família, já que nestas circunstâncias e com tempos tão difíceis, a herança deixada por seu pai, foi uma vida de muito trabalho cheia de encargos e compromissos a respeitar. A sua vida foi seguindo o seu curso normal, nem sempre um mar de rosas é certo, mas lá foi continuando. Isaías sempre se revelou um homem muito criativo, quando por exemplo fazia petiscos com amigos enquanto fabricava o vinho e ao mesmo tempo o telheiro, essas “brincadeiras” eram depois transportadas para a Adega, para serem comercializadas. Depois de sua mãe fazer as partilhas, Isaías decide comprar às irmãs a sua parte e assim torna-se dono da Adega que antes tinha o nome de Zé da Glória e passa a ter a designação de Adega do Isaías. Isaías Parreiras participa em diferentes certames gastronómicos de pequena dimensão, até que é convidado a participar naquele que se viria a tornar o maior de todos, o Festival Gastronómico de Santarém, onde durante vários anos participou e ganhou vários prémios, louvores e menções honrosas, sendo de destacar o 1º Prémio Nacional de Gastronomia. Este acontecimento veio trazer-lhe ainda mais prestígio, tanto a nível nacional, como internacional. Foi um dos responsáveis pela criação da “Cozinha dos Ganhões de Estremoz”, um dos maiores eventos gastronómicos do Alentejo. Certamente que muito mais fica por dizer, porque ao longo de mais de 50 anos como proprietário da Adega, muitas histórias aconteceram, que se podem contar na vasta colecção de prémios obtidos, reportagens jornalísticas, em Jornais e Revistas e nas paredes da sua Adega, para além das inúmeras figuras públicas que a ela ocorreram e que se tornaram amigos pessoais de Isaías António Parreiras. A Câmara Municipal atribui-lhe em 2007, a Medalha de Mérito Municipal - Grau Prata."
Esta rúbrica, iniciou-se, tendo por base um evento que se passa na minha terra, ESTREMOZ.
É ele, a "COZINHA DOS GANHÕES" e constitui uma homenagem a um dos seus principais mentores, o Aníbal Falcato Alves, que nos legou entre outras coisas, um livrinho intitulado: " COZINHA DOS GANHÕES" que tem como sub-título: "12 receitas da cozinha alentejana".
Hoje, primeiro dia do ano de 2009, e depois dos desmandos gastronómicos, da noite passada, nada melhor que uma "SOPINHA DE HORTELÃ".
Antes de deixar a receita, transcrevo um depiomento de Carolina Maria Pécurto Véstias, na altura com 54 anos de idade, casada, trabalhadora rural, sabendo ler, natural de S. Bento de Ana Loura.
" Mas eu gostava mais dessas sopas de hortelã.
As que faziam doer os queixos, como dizia o meu sobrinho.
Em sendo sopas de hortelã, dizia: — Oh pai, venha cá ver hoje, que estas são as que fazem doer os queixos.
É que as sopas de hortelã são muito escaldadiças. E o gaiato, que andava sempre a regar milho na herdade da Penuzinha, dizia que lhe faziam doer os queixos."
1 molho de hortelã
3 a 4 dentes de alho
1/2 cebola
4 colheres de azeite
1 ovo
Colorau
Sal
Água
Vinagre
Refogam-se no azeite, a cebola e os alhos, muito bem picados. Quando começam a alourar, junta-se a hortelã, que refoga também um bocado.
Quando a hortelã começa a ficar mole, junta-se o colorau, vinagre, sal e água.
Enquanto ferve, bate-se um ovo e, quase ao arredar, junta-se lentamente ao caldo, mexendo sempre.
Rectifica-se o sal e o vinagre e deita-se este caldo sobre sopas de pão cortadas às fatias e colocadas na terrina que vai servir à mesa.
Esta é a sopa de hortelã de azeite. Há também a mesma sopa, mas de carne.
Então, em vez de azeite, frita-se toucinho às tiras. No pingo obtido, frita-se chouriço às rodelas, farinheira e pode ser também umas rodelas de morcela.
No pingo que fica, refoga-se a cebola, os alhos e a hortelã e depois procede-se da mesma forma, como para o azeite.
A sopa de hortelã é também conhecida por gaspacho fervido. Não tendo, no entanto, nenhuma semelhança com o nosso conhecido gaspacho.
Depois disto tudo, só me resta formular votos de Bom Apetite!!!
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