Sem mais palavras, aproveitem a escutar este depoimento e depois, comentem.
Dias de Melo, escritor, natural da Calheta do Nesquim, Alto da Rocha do Canto da Baía, Ilha do Pico, partiu aos 83 anos de idade,
Ainda, há poucos meses, estive com ele na homenagem que o governo da região, atempadamente, lhe prestou e dias depois fui encontra-lo, de novo, em Lagoa, S. Miguel, quando dos encontros da Lusofonia. Estava já bastante debilitado mas, ainda com força para autografar a reedição de parte da sua obra
Hoje, dando a volta a algumas das suas obras, deparou-se-me uma primeira edição de, "Cidade Cinzenta", datada de 1971 e editada, pelo autor com composição e impressão nas oficinas gráficas da Papelaria da Matriz - Ponta Delgada e inserida na colecção Gávea Glacial.
É dessa obra que retiro esta dedicatória que, segundo a minha opinião, demosntra bem o carácter do Autor.
"À TIA MARIA HERMÍNIA ÁVILA
Os serões eram longos. Da tulípa do tecto, a luz caía sobre a mesa redonda. Sentada à roda da mesa, tu lias, eu escutava o que tu lias. Lias Eça, Camilo, Junqueiro, Antero, Ferreira de Castro, Zola, Victor Hugo, Martin du Gard, Blasco, Tolstoi, os nossos Florêncio Terra, Nunes de Rosa, ainda vivos, Bernardo Maciel, ainda por publicar. E mais, e mais... Lias , explicavas, querias que eu discutisse contigo de igual para igual. E falavas de tanta coisa!
Outra me incutira o gosto pela Literatura — ou começara a cultivar em mim, esse gosto que nascera comigo. Tu — davas-me consciência, ensinavas-me a pensar, formavas-me o ideal. Como em criança me trouxeras ao colo e ajudaras a minha Mãe e ensinar-me a caminhar.
Um dia mostrei-te os meus primeiros escritos. Eram versos. Encheram-se-te os olhos míopes de alegria. Leste-os. Foste com eles ao Poeta da nossa cidade.
Depois, paguei-te com a maior das ingratidões. Sei que me perdoas-te.
O amor, porém, que desde sempre te votei — esse nunca morreu dentro de mim. Está, com tudo o que aprendi contigo, em todas as palavras que tenho escrito — e neste livro, que é para ti."
Morreu Dorival Caymmi, a minha eterna lembrança.
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