Domingo, 20 de Outubro de 2013

AOS DOMINGOS POESIA

BICHO DA TERRA


É quando estás de joelhos
que és toda bicho da Terra

toda fulgente de pêlos

toda brotada das trevas

toda pesada nos beiços

de um barro que nunca seca

nem no cântico dos seios

nem no soluço das paernas

toda raízes nos dedos

nas unhas toda silvestre

nos olhos toda nascente

no ventre toda floresta

em tudo toda segredo

se de joelhos me entregas

todos os frutos da Terra

David Mourão-Ferreira


publicado por felismundo às 11:10
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Quarta-feira, 16 de Janeiro de 2013

LEMBRANDO A INFÂNCIA

De: ANTÓNIO RAMOS ROSA, in "Não posso adiar o coração"

 

MONÓLOGO

 

Perdi a infância e as grandes horas
e procuro numa árvore não sei que intimidade
como se um sol para as mãos nascesse deste olhar
mas a inocência é rápida como o brilho
silênciosa
e existe em si mesma.

Uma forma, sim, sempre silenciosa
dia a dia nascida da surpresa e constância

dia a dia nascida da inocência, mas

como fugir a esta inútil presença?


publicado por felismundo às 16:13
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Domingo, 30 de Setembro de 2012

A poesia de Fernando Pessoa - A TABACARIA

Assim, sem palavras pois "Elas",estão lá todas!!!



publicado por felismundo às 10:30
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Terça-feira, 1 de Novembro de 2011

TODOS OS DIAS, SÃO DIAS DE POESIA


publicado por felismundo às 21:05
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Sexta-feira, 21 de Outubro de 2011

"CESTAS" DE POESIA

A minha homenagem ao António Praia, que decidiu partir, enquanto dormia.
Certamente este poema seria facilmente subscrito por ele daí, aqui o deixar.

 

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto.
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha  morte não tem importância nenhuma.

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
E quando for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro

 


publicado por felismundo às 17:46
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Sexta-feira, 16 de Setembro de 2011

"CESTAS" DE POESIA

Voltei!!!
Veremos se a inspiração e o tempo, disponível, me vão permitir uma maior e mais eficaz assiduidade.

 

MAIS VALE PREVENIR

 

O ditador estava satisfeito.

O dia tinha-lhe corrido bem.

Mandara fuzilar dezoito opositores, espancar sete jornalistas,

prender quinze intelectuais e expulsar quatro diplomatas

estrangeiros.

Não há dúvida que tinha sido um dia realmente cheio.

Meteu-se no Rolls blindado e, recostado

no banco de trás, ia pensando...

No dia seguinte.

Na destruição da sede do Sindicato,

na prisão do es-Primeiro-Ministro, no interrogatório de alguns detidos,

na tortura dos mais renitentes...

...um sorriso matreiro invadiu o rosto do ditador.

Pelo telefone do automóvel, ordenou a destruição imediata da

sede do Sindicato, a prisão do ex-Primeiro-Ministro

e o acelerar das torturas.

Só depois disso se encostou, de novo, satisfeito.

 

O seu lema sempre fora:

<<... Não guardes para amanhã, o que podes fazer hoje!>>

 

in "O Gaço de Barcelos ao Poder" de João Viegas


publicado por felismundo às 17:20
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Terça-feira, 28 de Junho de 2011

HOJE, DEU-ME PARA ISTO!!!

 

 

ALENTEJO

 


Folheia-se o caderno e eis o sul


E o sul é a palavra. E a palavra 


Desdobra-se 


No espaço com suas letras de 


Solstício e de solfejo


Além de ti


Além do Tejo


Verás o rio e talvez o azul 


Não o de Mallarmé: soma de branco e de vazio


Mas aquela grande linha onde o abstracto 


Começa lentamente a ser o 


Sul

 

Outro é o tempo


Outra a medida 



 

Tão grande a página


Tão curta a escrita

 



Entre o achigã e a perdiz


Entre chaparro e choupo

 



Tanto país


E tão pouco

 

Solidão é companheira 


E de senhor são seus modos 


Rei do céu de todos


E de chão nenhum

 



À sombra de uma azinheira


Há sempre sombra para mais um


Na brancura da cal o traço azul


Alentejo é a última utopia



Todas as aves partem para o sul


Todas as aves: como a poesia

 

Manuel Alegre (Alentejo e ninguém)


publicado por felismundo às 20:00
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Sábado, 18 de Junho de 2011

POESIA, TAMBÉM AO SÁBADO!!!

 

 João de Deus (1830-1896)

 

 

O DINHEIRO

 

O Dinheiro O dinheiro é tão bonito,
Tão bonito, o maganão!
Tem tanta graça, o maldito,
Tem tanto chiste, o ladrão!
O falar, fala de um modo...
Todo ele, aquele todo...
E elas acham-no tão guapo!
Velhinha ou moça que veja,
Por mais esquiva que seja,
                            Tlim!
                            Papo.

E a cegueira da justiça
Como ele a tira num ai!
Sem lhe tocar com a pinça;
E só dizer-lhe: «Aí vai...»
Operação melindrosa,
Que não é lá qualquer coisa;
Catarata, tome conta!
Pois não faz mais do que isto,
Diz-me um juiz que o tem visto:
                            Tlim!
                            Pronta.

Nessas espécies de exames
Que a gente faz em rapaz,
São milagres aos enxames
O que aquele demo faz!
Sem saber nem patavina
De gramática latina,
Quer-se um rapaz dali fora?
Vai ele com tais falinhas,
Tais gaifonas, tais coisinhas...
                            Tlim!
                            Ora...

Aquela fisionomia
É lábia que o demo tem!
Mas numa secretaria
Aí é que é vê-lo bem!
Quando ele de grande gala,
Entra o ministro na sala,
Aproveita a ocasião:
«Conhece este amigo antigo?»
— Oh, meu tão antigo amigo!
                            (Tlim!)
                            Pois não!



João de Deus, in 'Campo de Flores'


publicado por felismundo às 11:58
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Segunda-feira, 6 de Junho de 2011

PÓS - ELEIÇÕES


DÓI-ME O PEITO

 

Dr.
dói-me o peito
do cigarro
do bagaço
do catarro
do cansaço
dói-me o peito
do caminho
de ida e volta
do meu quarto
à oficina
sem parar
sempre a andar
sempre a dar
dói-me o peito
destes anos
tantos anos
de trabalho e combustão
dói-me o luxo
dói-me os fatos
dói-me os filhos
dói-me o carro
de quem pode
e eu a pé
sempre a pé
dói-me a esperança
dói-me a espera
pelo aumento
pela reforma
pelo transporte
pela vida e pela morte.

Dr.
já estou farto
de não ser
mais que um braço
para alugar
foi-se a força
e o meu corpo
é como o mosto pisado
como um pássaro insultado
por não poder mais voar.

Dr.
eu não sei ler
os caminhos
por dentro
dos hospitais
mas alguém há-de aprender
entre as rugas do meu rosto
o que não vem nos jornais
e não há nada no mundo
nem discurso
nem cartaz
capaz de gritar mais alto
que as palmas das minhas mãos
que o meu sorriso sem jeito,

Dr.
Dói-me o peito…



José Fanha

Eu sou Português aqui, ed. Ulmeiro

sinto-me:

publicado por felismundo às 10:47
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Segunda-feira, 21 de Março de 2011

UM POETA, SEMPRE PRESENTE!!!

Emanuel Félix Borges da Silva nasceu em Angra do Heroísmo a 24 de Outubro de 1936 e faleceu no dia 14 de Fevereiro de 2004 na mesma cidade. Poeta, ensaísta, autor de contos e crónicas, crítico literário e de artes plásticas. Foi considerado o introdutor do concretismo poético em Portugal, que cedo rejeitou, tendo passado pela experiência surrealista.

 

 

 

POEMA PARA O GATO GASPAR

 

Nem só de carapaus vivem os gatos

mas também de silêncio

mas de ouvidos e patas

e de gatas que é mesmo a posição

em qestão

e em que estão

os outros animais ditos i-

-racionais

 

Gaspar, my friendly ghost

come a tua ração

come o teu pão quer dizer carapau

                                        quotidiano

com esse teu motor interior

a trabalhar em direcção à fuga

no preciso momento

 

Todavia não deixes de espreitar

o aquário com peixes verdes dentro

que o alimento

vem também do sonhar

 

Nem só de carapaus, may friendly ghost

bicho manhoso

a quem chamo Gaspar

 

EMANUEL FÉLIX

in, "121 POEMAS ESCOLHIDOS"

EDIÇÕES SALAMANDRA, COL GARAJAU, 2003


publicado por felismundo às 11:40
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