Sábado, 30 de Setembro de 2006
O CANTADOR
O cantador
chegou de madrugada
venceu a noite
pelas praias do mar
na sua voz
teceu uma balada
amanhecer
que havemos de cantar
O cantador
rasgou as nossas penas
num canto moço
que havemos d'acender
na sua voz
ergueu vilas morenas
Maio maduro
que havemos de colher
Ergueu cidades
sem muros nem ameias
lançou sementes
na terra de ninguém
cantou o sol
rompeu nossas cadeias
trouxe consigo
outro amigo também
José Medeiros
in CD "Torna-Viagem" (2004)
(Prémio José Afonso - 2005)
QUANDO, LÍDIA, VIER O NOSSO OUTONO
Quando, Lídia, vier o nosso Outono
Com o Inverno que há nele, reservemos
Um pensamento, não para a futura
Primavera, que é de outrem,
Nem para o estio, de quem somos mortos,
Senão para o que fica do que passa
O amarelo actual que as folhas vivem
E as torna diferentes.
Ricardo Reis
in "Odes de Ricardo Reis"
Sexta-feira, 29 de Setembro de 2006
E é mesmo isso que eu vou fazer.
Como, por qualquer situação que eu não domino, não consigo responder, no local indicado, aos comentários que me fazem, resolvi escrever aqui.
Falei, há dias, sobre Moçambique e sobre a intenção expressa que o actual Presidente da República Moçambicana tinha, em reabrir a investigação sobre o acidente, incidenteou atentado, que vitimou o então Presidente, Samora Moisés Machel.
Dos comentários feitos, aperece um "eu", que diz o que diz, e me obriga a dizer-lhe, que tenha juízo, que se deixe de comentários racistas e/ou paternalistas, que as gentes de Moçambique, Pretos, Brancos, Mestiços, Chineses, Asiáticos e de todos os credos e religiões, são GENTE de bem e com uma CULTURA, incomensurável maior que a sua.
Da Emiéle, que é da mesma colheita que eu, só tenho a gradecer as suas previdentes palavras.
Do Miguel, só lhe digo que o amo muito!
Bom será que "eu" tenha tento, no que pensa e diz, fica-lhe mal e já não é altura, se é que alguma vez o foi, para se ser racista.
Ao fim duma horas imensas de luta, consegui voltar.
Era essêncial fazê-lo, ainda por cima, no dia em que a minha Ana completava 26 anos de idade.
É maravilhoso acordar de um pesadelo com a notícia de que, temos o passaporte, da vida, assinado por mais um ano.
Não tenho cabeça para alinhavar mais qualquer coisa, amanhã regresso.
Espero que os que foram ao Onda Jazz, tenham gostado da Mariana, ela merece, é uma voz, é um sentimento.
Apesar de longe, estive com Ela, e sei que esteve BEM.
Quarta-feira, 27 de Setembro de 2006
Hoje, ao folhear o "Público", li uma notícia sobre Moçambique que me deixou bastante agradado.
Não eram promessa vãs de progresso da economia ou de coisas semelhantes.
Desde que a vida me levou para tão longínquas, como vizinhas, paragens, que assumi Moçambique como a minha segunda Pátria. Senti-me sempre bem, nasceu-me lá, um filho, o que me transmitiu esse elo de ligação, que passados trinta e um anos se mantém, cada vez mais vivo.
A notícia dizia que, o actual Presidente da República de Moçambique, Armando Emílio Guebuza, insistiu em que o Estado "não vai descansar até que se esclareça o crime" que em 19 de Outubro vitimou o seu antecessor Samora Moisés Machel.
Há que esclarecer e que entender o porquê desse caso que, até ao momento, continua envolto num mistério que levou Moçambique a uma Guerra Civil, de que, pouco a pouco se vai libertando, trazendo a Paz a esse Povo que tanto a merece.
Domingo, 24 de Setembro de 2006
POEMA EM LINHA RECTA
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó principes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Álvaro de Campos
Nota: Os meus maiores agradecimentos ao Fernando Pessoa, por me lembrar, este Poema, neste dia.
Sábado, 23 de Setembro de 2006

Fotografia de Renato Nunes
MARIAS - É o nome do espectáculo que Mariana Abrunheiro, uma voz indispensável da música portuguesa, acompanhada ao piano por Ruben Alves, vai levar a efeito no ONDA JAZZ, em Alfama, no próximo dia 28, Quinta-Feira, pelas 23h00.
Aos que a não conhecem, aconselho a não perderem, aos outros, os conhecidos, esses já sabem.
Sexta-feira, 22 de Setembro de 2006

Graças à dica da Emiéle, consegui.
Este é o interior do contentor do CPValour, com o que, o Teatro GIZ, conseguiu recuperar.
Agora a estória está contada.
Quinta-feira, 21 de Setembro de 2006

Longe estava quando escrevi os post's anteriores, de saber que o CPValour, iria ser afundado, notícia de hoje, nos média. Falava-se, era um hipótese, mas nada de concreto.
Enfim, aquilo que deu origem à estória que descrevo, que tem como actor principal um contentor que este navio transportava, tem mais um capítulo. A Praia do Norte, ficou, finalmente, sem aquele mamarracho. O Faial, ficou mais lindo, ainda.
Quanto ao teatro, vamos em frente, que se faz tarde.