Será que ainda alguém se lembra?
Deixo-vos esse problema e estas magníficas imagens que são bem o relato do que se passou depois, para dourar a situação essa parceria, ímpar, da música açoriana: Zeca Medeiros e Susana Coelho.
O PROFESSOR DE LITERATURA
O professor de literatura
doutorado em poética
fala ex-cátedra
aos alunos
da para-literatura
contra-literatura
do sub-texto
do inter-texto
da nomenclatura
os alunos ficam
todos alunados
suados
aluados
com semelhante cultura
O professor
mexe
remexe
na derme
epiderme
da poesia
O professor
tira
destira
cobre
descobre
diz cobre
diz prata
diz que diz
não diz que disparata
codifica
descodifica
não ata
nem desata
e fica por fora
do ouro
da poesia
Namora
desnamora
não namora
por dentro
com a poesia
mama
desmama
mas não dorme
com ela
na cama
Mendes de Carvalho
(1927-1988)
in, Noite Branca- 1994 - ed. póstuma
Foram estes, os grandes vencedores do Prémio MEGAFONE
A banda Galandum Galundaina e o cineasta Tiago Pereira venceram no domingo a primeira edição dos prémios Megafone, que distinguem projetos nacionais que estimulem a renovação da música de raiz tradicional.
Os prémios Megafone, criados pela associação cultural Megafone 5 em homenagem ao músico João Aguardela, que morreu em 2009, e que pretendem estimular a renovação da música portuguesa de inspiração tradicional, decorreram no domingo à noite no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
Os Galandum Galundaina venceram a categoria Prémio Megafone Música, por criarem música nova tendo como matriz a música popular e tradicional portuguesa, à imagem de João Aguardela, enquanto Tiago Pereira venceu o Prémio Missão, de reconhecimento por um trabalho fora do âmbito musical que contribui para o espírito de renovação da música de inspiração tradicional.
FONTE:
Diário Digital / Lusa
Assim sem mais, dou a palavra aos que a merecem.
Desta vez, Vergílio Ferreira!
Outros Escritos, De Outros Autores...
"Meu amigo:
Escrevo-te para daqui a um século, cinco séculos, para daqui a mil anos... É quase certo que esta carta te não chegará às mãos ou que, chegando, a não lerás. Pouco importa. Escrevo pelo prazer de comunicar. Mas se sempre estimei a epistolografia, é porque é ela a forma de comunicação mais directa que suporta uma larga margem de silêncio; porque ela é a forma mais concreta de diálogo que não anula inteiramente o monólogo. Além disso, seduz-me o halo de aventura que rodeia uma carta: papel de acaso, redigido numa hora intervalar, um vento de acaso o leva pelos caminhos, o perde ou não aí, o atira ao cesto dos papéis e do olvido, ou o guarda entre os sinais da memória. Por sobre tudo, porém, agrada-me falar desde o centro deste Inverno e desta cidade mortal que me cercam.
Ouço as vozes subterrâneas à alegria mecânica, aos passos cronometradas,à azáfama de nervo e esquecimento que adivinho ao longe, numa metrópole-síntese construída em arame e cimento, e é bom que essas vozes ressoem na minha boca.
Vergílio Ferreira
in, "Carta ao Futuro"
A POESIA DE ANTÓNIO ALEIXO
Porque o Povo Diz Verdades
Porque o povo diz verdades,
Tremem de medo os tiranos,
Pressentindo a derrocada
Da grande prisão sem grades
Onde há já milhares de anos
A razão vive enjaulada.
Vem perto o fim do capricho
Dessa nobreza postiça,
Irmã gémea da preguiça,
Mais asquerosa que o lixo.
Já o escravo se convence
A lutar por sua prol
Já sabe que lhe pertence
No mundo um lugar ao sol.
Do céu não se quer lembrar,
Já não se deixa roubar,
Por medo ao tal satanás,
Já não adora bonecos
Que, se os fazem em canecos,
Nem dão estrume capaz.
Mostra-lhe o saber moderno
Que levou a vida inteira
Preso àquela ratoeira
Que há entre o céu e o inferno.
António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..."
«Saudades do Carlos de Oliveira», acrílico s/ tela, 53 x 45, 1988,
col. particular. Exposto na Galeria Nasoni (1989), em Vila Franca de Xira (1991),
na exposição Carlos de Oliveira (1992).
Carlos de Oliveira (Belém do Pará, 10 de Agosto de 1921 — Lisboa, 1 de Julho de 1981) foi um escritor português.
Filho de emigrantes portugueses, só viveu no Brasil os dois primeiros anos de vida: em 1923, os seus pais regressam a Portugal, acabando por se fixar na região de Cantanhede, mais precisamente na aldeia de Febres, onde seu pai exercia medicina. Em 1933 muda-se para Coimbra, cidade onde permanece durante quinze anos, a fim de concluir os estudos liceais e universitários. Ingressa na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra em 1941, onde estabelece amizade, convívio intelectual e solidariedade ideológica e política com outros jovens, entre os quais Joaquim Namorado, João Cochofel e Fernando Namora.
Em 1942 publica o seu primeiro livro de poemas Turismo, com ilustrações de Fernando Namora, integrado na colecção Novo Cancioneiro e em 1943 publica o seu primeiro romance, Casa na Duna. Em 1944, o romance Alcateia, será apreendido, lançando nesse mesmo ano a segunda edição de Casa na Duna.
Em 1945 publica um novo livro de poesias, Mãe Pobre. Os anos 1945 e seguintes serão, para Carlos de Oliveira, bem profícuos quanto à integração e afirmação no grupo que veicula e auspera por um “novo humanismo”, com a participação nas revistas Seara Nova e Vértice e a colaboração no livro de Fernando Lopes Graça Marchas, Danças e Canções – colectânea de poesias de vários poetas, musicadas por aquele, canções que vieram a ser conhecidas por “heróicas”.
Termina em 1947 a sua Licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas, e no ano seguinte instala-se definitivamente em Lisboa, não deixando, contudo, de se deslocar periodicamente a Coimbra e à Gândara. Em 1949 casa com Ângela, jovem madeirense que conhecera na Faculdade, que será sua companheira e colaboradora permanente.
Em 1953 publica Uma Abelha na Chuva, o seu quarto romance e, unanimemente reconhecido como uma das mais importantes obras da literatura portuguesa, estando integrado nos conteúdos programáticos da disciplina de português no ensino secundário.
Em 1957 organiza, com José Gomes Ferreira, numa abordagem do imaginário popular os dois volumes de Contos Tradicionais Portugueses, alguns deles posteriormente adaptados ao cinema por João César Monteiro.
Em 1968 publica dois novos livros de poesia, Sobre o Lado Esquerdo e Micropaisagem e colabora com Fernando Lopes no filme por este realizado e terminado em 1971, Uma Abelha na Chuva, a partir da obra homónima. Publica em 1971 O Aprendiz de Feiticeiro, colectânea de crónicas e artigos, e Entre Duas Memórias, livro de poemas, pelo qual lhe é atribuído no ano seguinte o Prémio de Imprensa. Em 1976 reúne toda a sua poesia em Trabalho Poético, dois volumes, apresentando os livros anteriores, revistos, e os poemas inéditos de Pastoral, livro que será publicado autonomamente no ano seguinte. Publica em 1978 o seu último romance Finisterra, paisagem povoada de inspiração gandaresa, obra que lhe proporciona a atribuição do Prémio Cidade de Lisboa, no ano seguinte.
Morre na sua casa em Lisboa a 1 de Julho de 1981.
Soneto da Chuva
Quantas vezes chorou no teu regaço
a minha infância, terra que eu pisei:
aqueles versos de água onde os direi,
cansado como vou do teu cansaço?
Virá abril de novo, até a tua
memória se fartar das mesmas flores
numa última órbita em que fores
carregada de cinza como a lua.
Porque bebes as dores que me são dadas,
desfeito é já no vosso próprio frio
meu coração, visões abandonadas.
Deixem chover as lágrimas que eu crio:
menos que chuva e lama nas estradas
és tu, poesia, meu amargo rio.
Carlos de Oliveira, in 'Terra de Harmonia'
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
. ...
. ...
. A poesia de Fernando Pess...
. TENTEMOS UM RECOMEÇO, PEL...
. É BOM OUVIRMOS OS "MAIS V...
. MUDANÇAS