Já passaram as eleições.
Livres, dizem os políticos, se bem que, para mim, que nasci, cresci e me fiz homem, num outro tempo, a "liberdade" de que estes falam, não é a mesma pela qual eu sonhei e lutei!
Daí que me tenha recordado do Manuel Alegre desse tempo, combativo e actuante, e por isso este poema de hoje, para que, os que o lerem, se não esqueçam do que foi o nosso passado recente.
Direi de meu tempo que havia um S
havia uma sombra e um silêncio
havia um S de sigla e de suspeita
com suas seitas e seus sicários.
Não sei se signo não sei se sina
não sei se simplesmente sujo.
Ou só servil. Ou só sevícia.
Havia um S de Saturno
havia um susto
havia um S de soturno
sobre um S de sol.
De meu tempo direi
que havia um S
de sepulcro.
Sentinela. Sentinelas.
Ou talvez selva. Talvez serpente.
S de sebo e de sebeta: seco seco.
E também senão. E também senil.
Direi de meu tempo
que havia um S
sem sentido.
E também Setembro. E também solstício.
Saga e safra.
Ou talvez semente. Ou talvez segredo.
Havia um S de sal e sílex
havia um silvo
Havia um sílaba ciciada.
E também o sonho: entre suar e ser.
(Como um soluço como um soluço.)
De meu tempo direi
que havia um S
de sol e som.
Havia Setembro e um assobio
Contra um S de sombra e de silêncio.
Manuel Alegre
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