Quarta-feira, 24 de Fevereiro de 2010

23 DE FEVEREIRO

Sei que estou a escrever no limbo deste dia. De qualquer forma, aqu nos Açores é menos uma hora que no continente, razão porque ainda estou a tempo de dizer o porquê de aqui estar.

Foi à 23 anos, tinha sabido da morte do Zeca e preparávamos a ida para Setubal, onde iria decorrer o funeral, a 24. O que essas horas representaram, ainda hoje não consigo verbalizar, razão porque vou aqui deixar o relato da notícia.

 

 

José Afonso morreu no dia 23 de Fevereiro de 1987, no Hospital de Setúbal, às 3 horas da madrugada, vítima de esclerose lateral amiotrófica, diagnosticada em 1982. O funeral realizou-se no dia seguinte, com mais de 30 mil pessoas, da Escola Secundária de S. Julião para o cemitério da Senhora da Piedade, em Setúbal, onde a urna foi depositada às 17h30 na sepultura 1606 do quadro 19. O funeral demorou duas horas a percorrer 1300 metros. Envolvida por um pano vermelho sem qualquer símbolo, como pedira, a urna foi transportada, entre outros, por Sérgio Godinho, Júlio Pereira, José Mário Branco, Luís Cília, Francisco Fanhais.

 

 

Deixo agora algumas reflexões que o Zeca nos legou, importantes neste momento da vida portuguesa


   Azeitão 1979-1987
"Curioso é que nós passamos 40 ou 50 anos de uma vida a fazer determinadas coisas e um dia mais ou menos de repente, sem que renunciemos a nada do que fizemos, apercebemo-nos de que tudo deveria ter sido diferente. 
É apenas uma vaga sensação que se instala, sem que saibamos defini-la muito bem. 
No fundo sou muito mais contraditório e supersticioso do que quis admitir ao longo dos anos."
"Eu sempre disse que a música é comprometida quando o músico, como cidadão é um homem comprometido. Não é o produto saído desse cantor que define o compromisso mas o conjunto de circunstâncias que o envolve com o momento histórico e político que se vive e as pessoas com quem ele priva e com quem ele canta.
"Não me arrependo de nada do que fiz. Mais: eu sou aquilo que fiz. Embora com reservas acreditava o suficiente no que estava a fazer, e isso é o que fica. Quando as pessoas param há como que um pacto implícito com o inimigo, tanto no campo político como no campo estético e cultural. E, por vezes, o inimigo somos nós próprios, a nossa própria consciência e os alibis de que nos servimos para justificar a modorra e o abandono dos campos de luta."
" Admito que a revolução seja uma utopia, mas no meu dia a dia procuro comportar-me como se ela fosse tangível. Continuo a pensar que devemos lutar onde exista opressão, seja a que nível for."


publicado por felismundo às 00:14
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De Anónimo a 25 de Fevereiro de 2010 às 22:00
sei que o dia já passou. mas permanece vivo em cada um de nós que admirava o Homem e a Música. a sua principalmente.
do zeca o que dizer, o que contar de novo que já ninguém tenha dito, ou que ninguém saiba?
vi os últimos concertos do zeca. já muito debilitado quer no "coliseu dos recreios" em Lisboa, quer na "voz do operário".
a maior parte dos concertos já não se tinha de pé, e sustinha-se amparado pelos amigos, os companheiros de luta, de exílio e de canções.
eram os do tempo das canções de combate.
nunca esqueci a última balada, saída da sua voz trémula mas clara.
"rios que vão dar ao mar...
deixem meus olhos chorar...
águas da fonte calai, oh! ribeiras chorai...
que eu não volto a cantar"
quando passado pouco tempo anunciaram a sua morte, há muita esperada, aquela balada, minha preferida entre muitas, veio-me de imediato a memória.
era como se ele soubesse, já. e eu acho que sim. que ele sabia...
não pude acompanhar o funeral, pois na altura tinha um bebé muito pequeno, que não podia deixar. Mas o meu pensamento estava lá
eu acredito que enquanto nos lembramos das pessoas elas não morrem, porque permanecem vivas nos nos nossos corações e na sua obra imortal.
não me restam mais palavras.
um abraço
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sei que o dia já passou. mas permanece vivo em cada um de nós que admirava o Homem e a Música. a sua principalmente. <BR>do zeca o que dizer, o que contar de novo que já ninguém tenha dito, ou que ninguém saiba? <BR>vi os últimos concertos do zeca. já muito debilitado quer no "coliseu dos recreios" em Lisboa, quer na "voz do operário". <BR>a maior parte dos concertos já não se tinha de pé, e sustinha-se amparado pelos amigos, os companheiros de luta, de exílio e de canções. <BR>eram os do tempo das canções de combate. <BR>nunca esqueci a última balada, saída da sua voz trémula mas clara. <BR>"rios que vão dar ao mar... <BR>deixem meus olhos chorar... <BR>águas da fonte calai, oh! ribeiras chorai... <BR>que eu não volto a cantar" <BR>quando passado pouco tempo anunciaram a sua morte, há muita esperada, aquela balada, minha preferida entre muitas, veio-me de imediato a memória. <BR>era como se ele soubesse, já. e eu acho que sim. que ele sabia... <BR>não pude acompanhar o funeral, pois na altura tinha um bebé muito pequeno, que não podia deixar. Mas o meu pensamento estava lá <BR>eu acredito que enquanto nos lembramos das pessoas elas não morrem, porque permanecem vivas nos nos nossos corações e na sua obra imortal. <BR>não me restam mais palavras. <BR>um abraço <BR class=incorrect name="incorrect" <a>silvya</A> <BR><BR><BR><BR><BR>eu tinha vinte e poucos anos, quando ele morreu. <BR>


De felismundo a 26 de Fevereiro de 2010 às 16:52
Silvya, gostei tanto do teu comentário! Foi tão sentido, que nem sei o que te dizer.
As palavras que citas, daquela canção, são algo que me deixam com uma imensa comoção.
Para além do conhecer, tive o privilégio de com ele contactar e de o ter em casa, pois era um "VERDADEIRO AMIGO". Tinha sim, ele tinha a perfeita noção da sua doença e do tempo que lhe restava, apesar da esperança e de veia criativa que nunca desapareceu, de tal forma que ainda hoje há textos e poemas, que não foram devidamente trazidos ao conhecimento. Quanto ao não conseguires entrar com o teu nome, creio que, mesmo que não te tornes uma bloger, tens que criar uma conta e aí sim o nome já entra. Vou informar-me melhor e depois te digo.


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