Fernando Assis Pacheco nasceu em Coimbra em 1 de Fevereiro de 1937. Licenciou-se em Filologia Germânica na Universidade de Coimbra, cidade onde viveu até 1961, ano em que foi para a tropa. Durante a adolescência foi actor de teatro e redactor da revista Vértice. Foi expedicionário em Angola pelo que, à data da publicação do seu primeiro livro, Cuidar dos Vivos, ainda se encontrava no continente africano. Foi um brilhante tradutor, tendo vertido para língua portuguesa obras de Pablo Neruda e Gabriel García Márquez, entre outros. O seu nome nunca será esquecido no mundo do jornalismo, tendo trabalhado no JL-Jornal de Letras, Artes e Ideias, n'O Jornal, na Visão, no Diário de Lisboa e no República. As suas principais obras de poesia são Cuidar dos Vivos, Memória do Contencioso e A Musa Irregular. Em prosa deixou-nos obras como Walt e Trabalhos e Paixões de Benito Prada. Faleceu no dia 30 de Novembro de 1995, em Lisboa, à porta da livraria Buchhölz.
Na colecção «
Obras de Fernando Assis Pacheco», a Assírio & Alvim publicou até à data:
Respiração Assistida [2003],
Memórias de Um Craque [2005]),
A Musa Irregular [2006],
Walt ou O Frio e o Quente [2007], com capas sobre desenhos de Bárbara Assis Pacheco, filha do autor.
Monólogo e explicação
Mas não puxei atrás a culatra,
não limpei o óleo do cano,
dizem que a guerra mata: a minha
desfez-me logo à chegada.
Não houve pois cercos, balas
que demovessem este forçado.
Viram-no à mesa com grandes livros,
com grandes copos, grandes mãos aterradas.
Viram-no mijar à noite nas tábuas
ou nas poucas ervas meio rapadas.
Olhar os morros, como se entendesse
o seu torpor de terra plácida.
Folheando uns papéis que sobraram
lembra-se agora de haver muito frio.
Dizem que a guerra passa: esta minha
passou-me para os ossos e não sai.
Pacheco, Fernando Assis (2006), Musa Irregular, Lisboa: Edições Asa, p. 40-41