Santarém, 25 Set (Lusa) - Por que razão não hão-de as grandes empresas juntar às estratégias de relaxe (como massagens ou spas), para renovar as energias dos seus trabalhadores, objectos como pufs, redes ou esteiras que permitam simplesmente... dormir no local de trabalho?
A pergunta é feita pelo advogado Prates Miguel, presidente da Associação Portuguesa dos Amigos da Sesta, que sábado realiza a sua II Conferência Nacional em Alcanena, distrito de Santarém.
Acérrimo defensor da prática de dormir meia ou uma hora depois do almoço, como medida essencial para a harmonia dos biorritmos, Prates Miguel disse à agência Lusa que o encontro de sábado visa mostrar que a correria da sociedade actual, sem uma reparadora sesta, tem implicações em áreas vitais das nossas vidas.
"A Sesta no Trabalho" é o tema de abertura da conferência, a cargo de Fernando Gonçalves, director do Centro Distrital da Segurança Social de Leiria, seguindo-se "A Sesta e Produtividade", pelo economista e gestor Manuel Marques Barreiro.
A APAS convidou o presidente da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, Paulo Marques Augusto, para falar sobre "Sesta e Segurança na Estrada", ficando para o compositor/cantor Pedro Barroso o tema "A Música, a Pausa e o Silêncio".
"Sesta Infantil", pela psicóloga clínica Mafalda Leitão, e "Sesta e Saúde Mental", por Raul Cordeiro, da Escola Superior de Saúde de Portalegre, são os outros temas da conferência.
Com 223 sócios, um deles honorário (o ex-presidente da República Mário Soares) e outro de mérito (o presidente da Câmara Municipal de Estremoz, cidade que acolheu a primeira conferência), a APAS concentra a maioria dos seus sócios nos distritos de Leiria (90), Portalegre (34), Lisboa (23) e Coimbra (22), pelo que Alcanena, junto ao nó de acesso à A1, tem uma "excelente localização".
"Queremos que o tema da sesta entre na discussão pública. Hoje temos outros ritmos, mas este deve ser um tema de debate", disse Prates Miguel, sublinhando que a APAS convidou pessoas que "sabem do que estão a falar" porque quer ser uma "corrente de opinião credibilizada".
Segundo disse, a associação não quer ir "tão longe" como a China, que em 1949 levou a sesta para a Constituição, mas gostaria que o movimento "se vá espalhando", o que tem vindo a acontecer, também graças à forma como tem sido tratado na Comunicação Social.
O seu propósito, afirmou, é "atirar uma pedrada no charco", com uma preocupação de "rigor", alicerçada em argumentos de "autoridades na matéria".
"Antes a associação era objecto de sátira, mas o sarcasmo foi arredado porque ninguém tinha pensado nas vantagens do equilíbrio biológico que a sesta proporciona", afirmou, sublinhando que o assunto deixou já de ser paródia e começa a ser levado a sério.
A ideia de criar a APAS surgiu depois da leitura, em 2001, de uma crónica do escritor José Eduardo Agualusa, que invocava razões científicas para defender a sesta como benéfica.
"Praticante remoto" da sesta - desde que, em criança, dormia debaixo da laranjeira da horta do pai, em Montargil - Prates Miguel afirmou que a sua reacção, na altura, foi a de pensar: "afinal não sou um preguiçoso".
Enfrentou a paródia na Conservatória, quando, em 2003, deu o passo para a criação da associação - uma das maiores dificuldades foi encontrar um código de actividade que enquadrasse a sesta, acabando por ficar "um que dava para todas".
A segunda adesão - do então deputado e actual secretário de Estado da Protecção Civil, José Miguel Medeiros -, deu-se na noite em que recebeu o cartão de constituição da APAS e, daí, a associação chegou à Assembleia da República.
Dos 13 associados dos primeiros tempos, a APAS passou para os 223, a maioria dos quais homens (perto de 190) e com idades entre os 41 e os 60 anos (pouco mais de 120), tendo actualmente uma "mascote", uma associada com três anos.
Professores, técnicos, funcionários públicos, industriais e médicos são as profissões com mais adeptos, mas também há um padre, dois deputados, uma governadora civil, actores, músicos e escritores.
MLL.
Lusa/fim
O movimento continua, até à vitória final!!!